Olá Leitores d’O Encilhamento Newsletter! Como vocês estão? Por aqui as coisas vão bem. Algumas aventuras de começo de ano, como por exemplo, aprendendo a velejar. Algo que sempre quis aprender. É incrível como aprender algo que nós sempre quisemos, nos deixa animados e contentes com cada micro avanço! Mas, há outras aventuras também. Como a corrida para terminar o doutorado. Essa mais intensa. Porém, aos poucos vai ganhando corpo e vou caminhando nessa aventura, que já está no seu quinto ano.
Vamos ao que interessa. Hoje falaremos de um assunto delicado, delicado como uma bolha de sabão. Afinal, o mercado de NFT é uma bolha ou não é?
“Estou sempre soprando bolhas,
lindas bolhas no ar
Elas voam tão alto, elas tocam o céu
E como os meus sonhos, elas desfazem-se e morrem
A fortuna está sempre escondida,
eu já procurei por todo lugar
Estou sempre soprando bolhas,
lindas bolhas no ar
United! United!”Hino do time de futebol inglês, Westham United (clique aqui para ouvir)
Já disse aqui neste espaço, e aqueles que me conhecem sabem, do interesse genuíno em bolhas financeiras, que culminam em crises, por parte deste que vos escreve. Não à toa esse humilde boletim leva o nome da sua, da minha, da nossa bolha financeira, que ficou conhecida como a crise do Encilhamento. Há um interessante debate entre Gustavo Franco e Luís Nassif sobre o assunto, que pode ser visto aqui, e para leitura mais rápida e outras referências bibliográficas, o artigo da Wikipedia também ajuda.

É evidente que o que me fascina é todo o processo (de exuberância) irracional que há por trás da formação dessas bolhas e como por um tempo há um desarrazoado descolamento entre valor e preço das coisas. E são inúmeros os casos de bolhas que já vivenciamos na história moderna. Entre as mais famosas estão as bolhas da Tulipa (na Holanda do século XVII); da Companhia do Mississippi (1727) e da Companhia dos Mares do Sul (1720). Esta última quebrou um gênio: Isaac Newton.
Só no curto período que vivi (foram 32 anos já!) tivemos duas bolhas financeiras, com consequências duríssimas. A bolha da Internet (2002) e a bolha do Mercado Imobiliário Americano (2008), que arrastou o mundo para uma crise financeira e deu início ao período conhecido como A Grande Recessão.
Mas, afinal, o que é uma bolha financeira/especulativa? Nós, economistas, gostamos de definir que Bolha, usualmente, se refere a uma situação em que o preço de algo – uma ação individual, um ativo financeiro ou mesmo um setor inteiro, mercado ou classe de ativos – excede seu valor fundamental em grande medida. Geralmente culminam com uma quebra de expectativas e daí temos todas as consequências que virão disto, da extensão que essa bolha chegou na sociedade.
Exemplo hipotético: se parcela relevante das empresas investiram seu caixa em alguma coisa que posteriormente descobriu-se que não vale nada, poderá haver uma quebradeira (dependendo da necessidade de caixa dessa empresas), insolvência, que podem levar ao aumento do desemprego, desaceleração da economia, etc.

E então chegamos aos NFTs. O que são NFTs? São Non-Fungible Token, ou em tradução livre, tokens não fungíveis. O que significa dizer que esses tokens são únicos em valor e características, não são substituíveis. Esses tokens são negociados em um ambiente digital, inviolável, nas famigeradas blockchains (blockchain é um livro-razão compartilhado e imutável usado para registrar transações, rastrear ativos e aumentar a confiança). Uma brilhante solução, em busca de um problema.
E com isto, quase tudo virtual, pode se transformar em um NFT. Uma imagem, uma arte virtual, um vídeo, um áudio, uma roupa exclusiva para seu bonequinho dentro de um jogo, etc.. Ter um NFT significa ter a posse de um desses tokens registrados em uma blockchain. Até onde pude entender, a posse é de um registro, um link de onde seu crypto ativo está hospedado, visto que a blockchain não armazena dados neste sentido, como as pastas do seu computador. Ou seja, tem-se o registro da posse, na grande maioria das vezes, de um link. Pensando assim, o primeiro NFT que eu conheci foi o pudim.com.br. Ele está la desde os anos 2000!
Brincadeiras a parte, quase US$ 41 bilhões em criptomoedas foram enviados para dois tipos de “contratos inteligentes” na blockchain Ethereum, associados a mercados e coleções de NFT desde o início de 2021 até meados de dezembro do ano passado, de acordo com uma nova estimativa da empresa de análise de blockchain Chainalysis Inc.
A popularidade dos NFTs explodiu no ano passado com vendas multimilionárias e celebridades, como o cantor Shawn Mendes, a socialite Paris Hilton e a ex-primeira-dama Melania Trump entrando na onda. O Neymar gastou cerca de R$ 6 milhões para a aquisição de duas NFTs de coleção hypada.
No meu modo de ver, os NFTs são uma consequência da concentração de renda brutal que está se digitalizando em criptoativos, particularmente com a ascensão de “jovens milionários (ou bilionários)” do Vale do Silício, mas não só. NFTs são algo que os crypto entusiastas podem comprar facilmente com criptomoedas. Existe mais alguma coisa que possa ser convenientemente comprada com criptomoedas? Além de que, se as criptomoedas querem efetivamente se tornar moedas, elas tem que trocar de mão, ajudarem as mercadorias na sua transformação e circulação.
Muito se compara o mercado de NFT com o mercado de arte. Mas, vejo que a analogia é difícil de ser feita. Exemplo simples. Entre neste link e baixe uma imagem a sua escolha. É exatamente a mesma imagem que o comprador se tornará (ou é) dono. Os mesmos pixels organizados exatamente da mesma maneira. Agora, tente fazer o mesmo com um Rembrandt, Van Gogh, Caravaggio ou Picasso. Só existem uma peça de cada uma de suas obras e são irreproduzíveis. Então, esse mercado dificilmente opera, hoje, sobre a mesma lógica do mercado de artes. Pode ser que com a vida no metaverso isso mude, e as imagens (ou obras, videos, etc) adquiridas ficarão lá na sua casinha virtual, sem a possibilidade de serem copiadas, etc.
Porém, hoje, acho injustificável o preço que certas NFTs estão atingindo, que para mim são consequências dessa brutal concentração de renda sendo digitalizada e da concentração dentro deste mercado cripto. Os efeitos da riqueza criptográfica apenas começaram a se fazer sentir em nossa sociedade e nossa economia. Mais está a caminho. Quando algumas pessoas olham para a cultura NFT, elas veem uma farsa ou um esquema Ponzi; outros veem o vislumbre de uma nova e ousada web3 que transformará a forma como vivemos.
O que vejo é a ponta de um iceberg muito grande. E o iceberg é feito de dinheiro. Acredito que sim, seja uma bolha especulativa no momento, dada a grande incerteza de avaliação de preço e valor, e que os altos preços nada mais são do que efeito dessa digitalização da riqueza concentrada. Porém, ainda é uma bolha pequena, menor do que US$ 50 bilhões e com pouco imbricamento de balanço entre os agentes da economia. Em 2005 havia US$ 625 bilhões em empréstimos hipotecários subprime, para termos em conta.
No páreo
Acho que não é preciso dizer mais. A casa fechou a aposta. É bolha. E você? O que acha?
Riléquis...
Bom, hoje gostaria de recomendar duas boas fontes de receitas e conteúdo vegetariano.
O canal no youtube Yeung Man Cooking, com uma pegada asiática, receitas incríveis, com direito a ASMR alimentício.
O site Cebola na Manteiga, da qual a autora possui o newsletter abaixo:
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